No segundo semestre, a estatal pretende inaugurar oficialmente seu primeiro laboratório de bionanotecnologia.
Quando uma empresa de tecnologia perde a corrida por um segmento de mercado, uma estratégia que pode adotar para retomar a dianteira é investir em uma área nova e com poucos competidores. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), estatal vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, decidiu adotar essa estratégia para atrair mais parcerias e reforçar sua receita anual, de R$ 200 milhões em 2011.
No segundo semestre, a estatal pretende inaugurar oficialmente seu primeiro laboratório de bionanotecnologia - um ramo da ciência que começou a ganhar ímpeto no mundo em 2010 e tem um potencial de geração de receita global de US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões por ano. "Nossa estratégia consiste em entrar em uma área nova no mundo inteiro, com pouca concorrência, para acelerar o processo de inovação no País", afirma João Fernando Gomes de Oliveira, presidente do IPT.
O executivo afirma que já firmou contratos com companhias privadas, avaliados entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões no total, para desenvolver pesquisas. A expectativa é chegar a R$ 10 milhões em contratos até o fim do ano e atrair investimentos de R$ 45 milhões a R$ 47 milhões em cinco anos. Entre as empresas com projetos na área de bionanotecnologia com o IPT estão Oxiteno, pertencente ao Grupo Ultra, Vale, Petrobras e Raízen, joint venture formada pela Cosan e a anglo-holandesa Shell.
As pesquisas serão realizadas sempre com três fontes de recursos, divididas de forma igualitária: investimento de empresa privada, subvenção do governo e recursos da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). As empresas e estatais deverão compartilhar a gestão das patentes geradas a partir das pesquisas.
No foco do IPT estão pesquisas que preveem o uso da bionanotecnologia nas áreas de energia, química, petroquímica e farmacologia. O foco de trabalho é bastante específico: o interesse do IPT é unir os conhecimentos de nanotecnologia e de biotecnologia para desenvolver novos processos de produção industrial. E produzir em larga escala dispositivos e equipamentos para as indústrias interessadas em adotar esses novos processos. "Como são procedimentos novos, as indústrias não encontram equipamentos no mercado", afirma Oliveira.
Para montar o laboratório, o IPT investiu R$ 46 milhões em dois anos - R$ 21 milhões foram usados na construção de um prédio novo no IPT, com 8 mil metros quadrados de área. A obra ficou a cargo da Esquadro Construtora, vencedora da licitação. Os outros R$ 25 milhões vêm sendo usados na aquisição de equipamentos.
O IPT também recebeu autorização do governo estadual para contratar por concurso público 250 profissionais, sendo 100 pesquisadores com experiência na área de bionanotecnologia. Do total de pesquisadores aprovados, 60 já foram contratados. A expectativa é de que o restante seja incorporado no segundo semestre, quando a nova unidade estiver pronta para operar.
O laboratório representa um ponto de virada na história recente do IPT. O Instituto foi fundado em 1899, com o foco no desenvolvimento de pesquisas voltadas ao aprimoramento industrial. Na década passada, a estatal passou por momentos difíceis, recebendo investimentos mínimos do governo estadual (R$ 2 milhões a R$ 5 milhões ao ano) e sem contratações.
No fim da década, o IPT desenvolveu um plano de metas para revitalizar a área de pesquisas e atrair mais parcerias com empresas privadas e reforçar seu caixa. O plano foi submetido aos governos estadual e federal e, em 2009, a estatal recebeu um investimento de R$ 100 milhões, sendo R$ 57 milhões do governo do Estado de São Paulo e R$ 43 milhões do BNDES.
Os recursos foram usados na construção de três laboratórios, incluindo o de bionanotecnologia, e em reformas em 19 unidades. O orçamento anual do IPT é de R$ 200 milhões, sendo R$ 100 milhões obtidos com a prestação de serviços a empresas. Verbas de governo representam a outra metade. Por ano, o Instituto atende a uma média de 3,5 mil companhias de todos os segmentos industriais.
Fonte: Jornal Valor Econômico, Jornal da Ciência de 3 de fevereiro de 2012.
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